Racionais MC's na Unicamp: disco pode ser relacionado ao modernismo brasileiro

  • Por Jovem Pan
  • 24/05/2018 11h30
Reprodução/Facebook/Klaus Mitteldorf

Quem viu a lista de leituras obrigatórias para o vestibular de 2020 da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) se surpreendeu com uma das obras ali presentes. Isso porque, pela primeira vez na história, um disco musical foi incluído na categoria “poesia”. E mais, um disco de rap. Estamos falando de Sobrevivendo no Inferno, álbum mais icônico da carreira dos Racionais MC’s. Achou estranho? Mas acredite: faz muito sentido.

“O álbum é um marco na nossa história artística porque rompeu barreiras. Em questão de literatura, temos que botá-lo ao lado do que fizeram as pessoas da segunda geração modernista em 1930. Ao lado de Jorge Amado,  Mario de Andrade, Carlos Drummond de Andrade.  Ele se propôs a analisar a realidade brasileira, assim como eles. Ele representa o que era ser da periferia em 1997. Não tinha metrô, tinha inflação, mostra essa regionalidade. Ele disse: olha, o jovem negro pobre de periferia existe”, explicou João Guimarães, DJ e editor da Jovem Pan Online, em entrevista ao Morning Show.

Além disso, o apresentador Edgard Piccoli relembrou que esse foi o primeiro álbum de rap que, de fato, chegou ao grande público do país. Em seus tempos de VJ, inclusive, o videoclipe da faixa Diário de Detento estourou na programação da MTV e lançou os integrantes Mano Brown, Edi Rock, KL Jay e Ice Blue ao estrelato.

“O disco também rompeu estéticas.  Eu colocaria ao lado de Transa do Caetano Veloso ou A Tábua de Esmeralda do Jorge Ben Jor. Ele começa e você pensa que  vai ser rap, vai ouvir um pancadão. Mas a primeira música é um cover do Jorge Ben Jor. Aí você fala: ‘opa, o que está acontecendo?’. A segunda são só dados sobre a realidade do negro de periferia. Só na terceira que começam. Para você, que vai fazer o vestibular, vou te ajudar: vai nessa onda”, completou João. “E é muito atual, a gente ainda está sobrevivendo no inferno”.

Até o momento, o único integrante do grupo a comentar o assunto foi o KL Jay. “Sobrevivendo no Inferno é um ótimo livro de história”, limitou-se a dizer. De acordo com a universidade, as obras selecionadas expressam “diferentes gêneros e extensões de autores das literaturas brasileira e portuguesa” e “possuem relevância estética, cultural e pedagógica para a formação dos estudantes do ensino médio”.

As outras obras que compõem a lista são, em “poesia”, sonetos de Luís de Camões e A Teus Pés de Ana Cristina Cesar; em “conto”, O Espelho, de Machado de Assim, e Saganrana, de Guimarães Rosa; em “teatro”, O Bem Amado, de Dias Gomes; em “romance”, A Falência, de Júlia Lopes de Almeida, Caminhos Cruzados, de Érico Veríssimo, e História do Cerco de Lisboa, de José Saramago; em “diário”, Quarto de Despejo, de Carolina Maria de Jesus; em “crônica”, A Cobra Vadia, de Nelson Rodrigues; e em “sermões”, sermões de Antonio Vieira.

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